Blogue do Maia de Carvalho

POR TRÁS DE CADA GRANDE FORTUNA HÁ UM CRIME. Honoré de Balzac

terça-feira, maio 27, 2014

OS "BORRALHO" DA NOSSA SOCIEDADE


Acabei de ler, ontem ou ante-ontem, um romance de Vergílio Ferreira, VAGÃO J, que foi proibido, pela Censura, em 1947.
Ora, pelo relatório da censura, que mandava retirar a obra do mercado, parece que o mais ofensivo, para a consciência protectora dos bons costumes dos portugueses, era a maneira de viver de uma célebre família Borralho, heroína do Romance.
O curioso é que ELES não conseguiram acabar com os Borralho. Nem ELES, nem os Governos que se seguiram, antes e depois de 1974. Toda a minha vida me cruzei com Borralho. Tive-os, em menino, como colegas na escola primária, e, como alunos, nas várias localidades onde leccionei depois de 1962/63.
Ainda hoje, mesmo com as taxas de sucesso alardeadas, continuo a cruzar-me com eles em todas as terras portuguesas que visito e, mesmo aqui, em Pombal onde resido.
A recente história, veiculada por jornais e tevês, do célebre «Palito» prova a evidência, de que os Borralho estão no meio de nós, fazem parte atávica do nosso povo.
Que série de novelas eu não escreveria se quisesse rememorar alguns dos mais notáveis (só os mais notáveis) que se deslocaram nas salas de aula onde aprendi/ensinei...


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sexta-feira, maio 23, 2014

CÂNTICO DOS CÂNTICOS.

«Como são lindos os seus pés calçados com sandálias, ó filha do príncipe!

As curvas das suas coxas são como jóias, obra das mãos de um artífice.
Seu umbigo é uma taça redonda onde nunca falta o vinho de boa mistura. 
Sua cintura é um monte de trigo cercado de lírios.
Seus seios são como dois filhotes de corça, gémeos de uma gazela.»

Que palermice! Nenhuma mulher merece que homem algum se sinta importunado com a rejeição. Devemos mesmo interrogarmos a nossa alma se é mesmo rejeição ou uma vontade raivosa de poder, uma afirmação sádica do não quero, uma ilusão de sobranceria que lhe mitigue a fome impossível de carinho.

Passemos ao largo, não liguemos, alardeemos o desprezo que não sentimos e agradeçamos reconhecidos aos brutamontes que as não poupam, que as insultam e enxovalham, as agridem mesmo física e moralmente. Ah, homens brutos como admiro a vossa brutalidade, a rudeza com que tratam as vossas mulheres que, eu sei, vão continuar-vos fiéis e a suportarem-vos, porque trazem dentro delas  a sujeição atávica de qualquer fêmea de mamífero que não pode conceber sem ser mordida na nuca,  no cachaço, ou no dorso. Konrad Lorenz, prémio Nobel de Fisiologia/Medicina de 1973, em  «A Agressão: Uma História Natural do Mal» (1963), já ensinava que tesão é agressão. Deixemos as mulheres escolherem os progenitores das suas crias e nós, os poetas que as amamos, transformemos a nossa desilusão em mais ternura, e calemo-las, e amemo-las, e aconcheguemo-las ao nosso colo, e deixemos que chorem até se fartarem e voltem febris de cio para a cama dos maridos.

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quinta-feira, maio 22, 2014

NÃO VAI NEM RACHA


Continuo sem conseguir escrever nada de consistente e demonstrativo de qualquer interesse seja lá pelo que for. Vou reduzir-me à minha atitude política à anterior a 1974. Não vejo, não ouço, não falo. Assim não implico com ninguém nem ninguém implica comigo.
Não consigo responder às perguntas que me assaltam. Não consigo fazê-lo a coisíssima nenhuma.


Como seria conseguir escrever um livro todo manuscrito e com uma caligrafia aceitável? Seria esteticamente louvável mas a letra? A minha é excessivamente subjectiva, depende do meu estado de felicidade, do meu estado de cansaço, do meu estado de fome ou saciado. Do funcionamento do meu intestino, do estado dos meus pés, dos meus braços, das minhas gónadas, do meu cérebro.

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PALHAÇOS



O homem que se apaixona é como um palhaço sem ter a arte dos palhaços. Não faz rir ninguém mas é ridículo até dizer basta! E mesmo assim insisto em apaixonar-me. Tolo!

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