Numa caixa de sapatos

Ontem acabei de ler “As pequenas Memórias” de Saramago. Hoje, não por isso certamente, acordei num grande desencantamento. Eu, que ando sempre de bem com a vida, hoje acordei desagradado de mim e do mundo. Misantropo.
O livro foi um instantinho enquanto ficou lido. Mas não me soube particularmente bem. Esperava mais e melhor. É-me relativamente difícil ler memórias (é capaz de ser também bastante difícil escrevê-las), mas é, esperava mais… Depois d’ “As Intermitências da Morte”, de “Todos os Nomes” e do “Memorial do Convento”, que li todos de enfiada, parecia-me que estas memórias deveriam ser um livro mais elaborado. Não, parece que foi redigido à pressa como se o fito principal fosse aparecer ao público numa determinada data. Assemelha-se a uma manta de retalhos em que as costuras que os ligam tivessem sido atabalhoadamente cosidas. Mas os retalhos são muito bonitos.
O mais lindo, para o meu gosto, é o dos bacorinhos mais fracos, acolhidos nas noites frias, pelos avós, na sua própria cama. Este episódio lembra-me um cá de casa:
Eu e a minha mulher, além dos filhos, já criámos duas cadelinhas recém-nascidas abandonadas, que nos obrigavam a levantar de três em três horas para lhes darmos o biberão e dormiam as duas dentro de uma peúga. Mais tarde dormiram também connosco na cama. Uma de cada lado de nós os dois…
Foi o meu filho mais novo, então adolescente, que no-las trouxe, numa noite fria e chuvosa de Novembro, para casa. Tinha-as encontrado numa caixa de sapatos numa travessa da cidade, e à chuva… Bons tempos!
1 Comments:
Ainda não tive oportunidade de ler nada do Saramgo! É uma vergonha! Eheh. Mas é verdade! Mas assim que tiver um tempo livre penso nisso!
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