Primeiro parágrafo: sabor a beco sem saída.

«Deixara de constituir mistério para mim o motivo por que ele e outros (Dante, Rabelais, Van Gogh, etc., etc.) tinham feito a sua peregrinação a Paris. Compreendia por que razão Paris atrai os torturados, os alucinados e os grandes maníacos do amor. Compreendia por que razão aqui, no próprio eixo da roda, é possível adoptar as teorias mais fantásticas e impossíveis sem as achar nada estranhas; é aqui que voltamos a ler os livros da nossa juventude e que os enigmas assumem novos significados: um por cada cabelo branco. Percorremos as ruas sabendo que somos loucos, que estamos possessos, porque salta aos olhos que estes rostos frios e indiferentes com que nos cruzamos são os rostos dos nossos guardas. Aqui todas as fronteiras se esbatem e o mundo revela-se o matadouro louco que é. A rotina alastra até ao infinito, os postigos fecham-se bem fechados, a lógica anda descontroladamente à solta e cutelos ensanguentados brilham no ar. O ar está gelado e estagnado, a linguagem é apocalíptica. Não há nenhum letreiro a indicar por onde se sai; a única saída é a morte. Um beco sem saída ao fundo do qual se ergue um cadafalso.»
TRÓPICO DE CÂNCER
Henry Miller
2 Comments:
Mordisquem: «salta aos olhos que estes rostos frios e indiferentes com que nos cruzamos são os rostos dos nossos guardas»
Lambam: «o mundo revela-se o matadouro louco que é»
Mordam até sentirem sangue nos dentes: «beco sem saída ao fundo do qual se ergue um cadafalso»
Até amanhã.
Professor,
Vim agradecer o comment no meu bog... e realmente nao ha nada como eu me sentir de novo eu
obrigada
Enviar um comentário
<< Home