Blogue do Maia de Carvalho

POR TRÁS DE CADA GRANDE FORTUNA HÁ UM CRIME. Honoré de Balzac

quinta-feira, novembro 16, 2006

Terceiro parágrafo: paroxismo da produtividade absurda.

«Um tipo tem de estar num país estranho como a França, a percorrer o meridiano que separa os hemisférios da vida e da morte, para saber as vistas incalculáveis que se escancaram à frente. O corpo eléctrico! A a/ma democrática! Maré enchente! Santa Mãe de Deus, que significam estas tretas? A terra está ressequida e estalada. Homens e mulheres unem-se como bandos de abutres sobre uma carcaça fedorenta, para acasalarem e se separarem de novo. Abutres que caem das nuvens como pedras pesadas. Garras e bico, eis o que somos! Um imenso aparelho intestinal com um faro especial para carne morta. Avante! Avante sem piedade, sem compaixão, sem amor, sem perdão. Não pedir nem dar quartel. Mais barcos de guerra, mais gás venenoso, mais explosivos fortes! Mais gonococos! Mais estreptococos! Mais máquinas de bombardear! Mais e mais de tudo isso até todo este caraças ir pelos ares feito em fanicos e a Terra com ele!»


TRÓPICO DE CÂNCER
Henry Miller


Antes, Miller, tinha pedido «mais porcas e parafusos, mais arame farpado, mais biscoitos para cães, mais aparadoras de relva, mais rolamentos de esferas, mais tanques, mais sabonetes, mais pasta para os dentes, mais jornais, mais educação, mais igrejas, mais bibliotecas, mais museus…», tudo como se se tratasse da mesma coisa, obsessiva e inútil.

Estávamos em 1934 ou 1935, cheirar-lhe-ia já a Guerra, primeiro em Espanha, depois no mundo inteiro?

O curioso é que estas premissas se mantêm e agravaram… extinguir-se-á o Homo sapiens? Virá aí o Homo technicus [o Homem biónico] que se alimentará do sapiens?