Blogue do Maia de Carvalho

POR TRÁS DE CADA GRANDE FORTUNA HÁ UM CRIME. Honoré de Balzac

sexta-feira, dezembro 22, 2006

Caminhos ou trânsitos?

Há sequências curiosas na corrente dos nossos pensamentos e opções de leitura.

O falatório a propósito das inexplicáveis TLEBS [Como se a matéria intrínseca de uma determinada ciência (neste caso a Linguística) interessasse ou pudesse ser explicada a todos sem ter em conta a idade ou sexo, grau de desenvolvimento psíquico ou cultural.], dois livros sequencialmente lidos, abordando sempre paisagem ou personagens indianas, conjugaram-se para a minha leitura de “O Macaco Gramático”.

É minha convicção, e julgo não estar só nesta ideia, que a gramática se aprende sem estudo, sem terminologia, ao colo das nossas mães, enquanto mamamos o leite da vida carnal e o carinho da linguagem e da saúde mental. Mais tarde, já com as regras impregnadas na nossa maneira de falar, é que vamos descobrindo as regras que utilizávamos sem saber que eram regras. Podemos, então, começar a brincar com a linguagem, a subvertê-la, dando-lhe novas formas, significantes e significados. Depois talvez seja possível dar nome a algumas dessas brincadeiras. Mas nomes simples, perceptíveis, deixando o calão científico para os especialistas, para os metalinguistas.

Parece-me ser este o caminho para uma boa didáctica da Língua Portuguesa. Mas vamos à leitura. - Octávio Paz, Nobel da Literatura de 1990, neste livro, brinca realmente com palavras e conceitos e é aí que reside toda a beleza e magia de “ O Macaco Gramático”.

«Nostalgia da inércia: a preguiça e os seus paraísos congelados. A sabedoria não está nem na fixidez nem na mudança, mas na dialéctica entre ambas. Constante ir e vir: a sabedoria está no instantâneo. É o trânsito. Mas mal digo «trânsito», rompe-se o encantamento. O trânsito não é sabedoria, apenas um simples ir rumo a... O trânsito desvanece-se: só assim pode ser trânsito.»

OCTÁVIO PAZ
«O MACACO GRAMÁTICO»