Blogue do Maia de Carvalho

POR TRÁS DE CADA GRANDE FORTUNA HÁ UM CRIME. Honoré de Balzac

sábado, dezembro 23, 2006

A sombra; a luz: o silêncio.

Vá, venham! Vamos saborear, beber estas palavras, apanhar uma bebedeira de letras: ...

« Mais uma vez pássaros, mais uma vez peixes. As sombras enlaçam-se e cobrem todo o muro. Desenlaçam-se. Bolhas no centro da superfície líquida, círculos concêntricos, tangem lá em baixo sinos submersos. Esplendor desnuda-se com uma mão sem soltar com a outra o sexo do seu par. Enquanto se vai despindo, o fogo da lareira cobre-a de reflexos cobreados. Pôs a sua roupa de lado e abre caminho nadando entre as sombras. A luz da fogueira enrosca-se nos tornozelos de Esplendor e ascende-lhe por entre as pernas até lhe iluminar a púbis e o ventre. A água cor de sol molha-lhe a penugem e penetra entre os lábios da vulva. A língua morna da chama sobre a humidade do sexo; a língua entra e palpa às cegas as paredes palpitantes. A água de múltiplos dedos abre as valvas e fricciona o obstinado botão eréctil escondido nas pregas gotejantes. Enlaçam-se e desenlaçam-se os reflexos, as chamas, as ondas. Sombras trémulas sobre o espaço que respira como um animal, sombras de uma borboleta dupla que abre, fecha, abre as asas. Nus. Sobre o corpo estirado de Esplendor sobem e descem as ondas. Sombra de um animal bebendo sombras por entre as pernas abertas da rapariga. A água: a sombra; a luz: o silêncio. A luz: a água; a sombra: o silêncio. O silêncio: a água; a luz: a sombra. »

OCTAVIO PAZ

«O MACACO GRAMÁTICO»

2 Comments:

At 8:41 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Uma viagem ao centro do universo... ;)

 
At 8:50 da tarde, Anonymous Anónimo said...

Quem escreve assim sabe o que faz.Rendida ao autor.{ }

 

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