Blogue do Maia de Carvalho

POR TRÁS DE CADA GRANDE FORTUNA HÁ UM CRIME. Honoré de Balzac

sexta-feira, junho 20, 2008

TANTA MODERNICE MATA-ME…


Hoje fui aos chamados Serviços Técnicos da Câmara pagar um recibo de água que me esqueci de pagar ontem pelo Multibanco.

Desperdicei cerca de meia hora da minha vida.

Que saudades dos antigos Serviços de Água do n.º11 da Rua do Louriçal onde, mesmo sem senhas e quadros electrónicos, havia um contacto humano com os funcionários do município.
Agora não. Um único balcão com seis aquários onde, em cada um, uma funcionária nos recebe sentada, separada do nosso também assento, por um largo balcão.
Uma única máquina distribui senhas identificadas, pelo menos de A a E, representando essas letras desde obras a pagamento de água, para qualquer um dos aquários invisíveis a partir da sala de espera. Um quadro electrónico vai, com uma lentidão exasperante, chamando os utilizadores dos serviços.
Quando entrei fui classificado como sexto cliente à espera e o mesmo quadro na parede indicava como tempo médio de espera 15 minutos. Ninguém tugia nem bulia. Parecendo-me que o quadro estava inactivo há muito tempo, levantei-me (entretanto já estavam onze clientes em espera) e fui espreitar o balcão da sala ao lado. Seis funcionárias no seu local de trabalho debruçadas sobre computadores ou aparelhos telefónicos… Ao fundo, nas cadeiras certamente a 5 e a 6, dois utentes sentados. Os outros aquários todos providos de funcionárias mas desocupados.
Voltei à sala de espera e dei “uma boca” sobre a modernice dos serviços que nada adiantam ao cidadão que, ao meu lado sentado, aguardava também a sua vez. Muito mais calmo e prudente do que eu aconselhou: - Não diga nada, aqui quando se fala é pior!
Seja porque me viram espreitar ou lá pelo que fosse, o quadro começou a chamar: primeiro um B12, depois um A02 e lá foi lentamente seguindo. Eu continuava à espera, espiando o quadro electrónico. Havia já 14 pessoas em espera e surpreendentemente o tempo estimado de espera tinha descido para 11 minutos em relação aos 15 minutos quando os utentes eram só seis. Outra coisa curiosa: o quadro que indicava o serviço (A,B, etc.), o n.º da senha e o n.º do balcão que estava a atender não estava nada claro. Eu explico: Como é possível o mesmo balcão, por exemplo o 4, estar a atender a senha A02 e ao mesmo tempo a senha B12? Como é possível o balcão 1 estar a atender a senha B09 e a E05, recém chamada?
Quando chegou a minha vez, chamei a atenção da funcionária que me atendeu para esta discrepância e ela disse-me peremptória: É impossível! E fez-me olhar para trás de mim para um quadro aparentemente igual ao da sala de espera, onde realmente a sequência serviço, senha, balcão parecia estar correcta. Então, – afirmei eu – o quadro lá de fora não está sincronizado com este. A senhora não comentou.
É assim, com o simplex socrático os cidadãos também não ganharam nada. Parece-me que com a modernização administrativa da nossa Câmara, só os aquários e os “gadgets” tecnológicos (ou quem os forneceu) aproveitaram. As relações inter pessoais entre os funcionários em si e a relação funcionário – utente, desumanizaram-se irremediavelmente.

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