DIA DE ANOS
Dia de anos
Com que então caiu na asneira
de fazer na quinta-feira
vinte e seis anos! Que tolo!
Ainda se os desfizesse…
mas fazê-los não parece
de quem tem muito miolo.
Não sei quem foi que me disse
que fez a mesma tolice
aqui o ano passado...
no que vem, agora, aposto,
como lhe tomou o gosto,
que. faz o mesmo? Coitado!
Não faça tal: porque os anos
que nos trazem? Desenganos
que fazem a gente velho:
faça outra coisa; que em suma
não fazer coisa nenhuma,
também lhe não aconselho.
Mas anos não caia nessa.
Olhe que a gente começa
às vezes por brincadeira,
mas depois, se se habitua,
já não tem vontade sua,
e fá-los, queira ou não queira!
JOÃO DE DEUS
(Campo de Flores)
Quando na minha carteira da sala de aula, por cima da Esquadra da Polícia do Campo Grande, na Escola Masculina n.º 33 de Lisboa, lia este poema de João de Deus, longe estava eu de me supor com setenta anos.
O chato, mesmo chato, é olhar para o espelho e ver uma imagem de mim muito diferente de como me imagino:
- A imagem que tenho de mim não é o Maia de setenta anos que observo; é um outro ser, que ainda sou e que me ilude, atribuindo-me metade da idade.
Pobre carcaça velha repleta de ilusões…
Etiquetas: Aniversário, Campo Grande, Escola, João de Deus, Lisboa
3 Comments:
Parabéns meu caro.
Será verdade o que alguém diz: que aos setenta já só (se)senta!?
Quero crer que não!
Perguntavam, um dia, a um indivíduo dos seus trintas, bem apessoado mas mais calvo do que Santo António, como era ver-se assim, tão jovem e careca. E ele respondeu tranquilamente: Muito bem, é só assumir a minha carequinha...
Assim não há anos que resistam, porque a pior velhice é a "cabeça vazia". Mas essa não tem nada a ver com a idade.
Parabéns, Professor.
Parabéns. Esses 70 já ninguém lhos tira. E quanto a não se sentir com a idade que tem, eu aos 41 também não sinto...
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