«Como são lindos os seus pés calçados com sandálias, ó filha do príncipe!
As curvas das suas coxas são como jóias, obra das mãos de um artífice.
Seu umbigo é uma taça redonda onde nunca falta o vinho de boa mistura.
Sua cintura é um monte de trigo cercado de lírios.
Seus seios são como dois filhotes de corça, gémeos de uma gazela.»
Que palermice! Nenhuma mulher merece que homem algum se sinta importunado com a rejeição. Devemos mesmo interrogarmos a nossa alma se é mesmo rejeição ou uma vontade raivosa de poder, uma afirmação sádica do não quero, uma ilusão de sobranceria que lhe mitigue a fome impossível de carinho.
Passemos ao largo, não liguemos, alardeemos o desprezo que não sentimos e agradeçamos reconhecidos aos brutamontes que as não poupam, que as insultam e enxovalham, as agridem mesmo física e moralmente. Ah, homens brutos como admiro a vossa brutalidade, a rudeza com que tratam as vossas mulheres que, eu sei, vão continuar-vos fiéis e a suportarem-vos, porque trazem dentro delas a sujeição atávica de qualquer fêmea de mamífero que não pode conceber sem ser mordida na nuca, no cachaço, ou no dorso. Konrad Lorenz, prémio Nobel de Fisiologia/Medicina de 1973, em «A Agressão: Uma História Natural do Mal» (1963), já ensinava que tesão é agressão. Deixemos as mulheres escolherem os progenitores das suas crias e nós, os poetas que as amamos, transformemos a nossa desilusão em mais ternura, e calemo-las, e amemo-las, e aconcheguemo-las ao nosso colo, e deixemos que chorem até se fartarem e voltem febris de cio para a cama dos maridos.Etiquetas: Agressão, Atavismo, Brutamontes, Cântico dos Cânticos, Konrad Lorenz, Nobel, Pombal
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