Pombal, 2015-02-05
Fui até ao Café para escrever, beber a bica e ler o Público mas não escrevi nem um simples apontamento.
Agora aqui, depois de beber outro café, queria ler e escrever alguma coisa sobe o Homem no seu estado natural, como se fosse possível, fora da paleontologia saber-se como era o homem em estado natural. Um Homo naturalis não existe, é uma animal primata qualquer de transição, no caminho da hominização, é um animal talvez tão aberrante como concentrarmos na actualidade, um símio carnívoro, caçador social.
Duas palavras novas no meu vocabulário do calão da zoologia: fetalisação (foetalisation) e neotenia (néoténie). Esta última já a tinha encontrado quando estudei a hominização e encontrei um autor que chamava ao Homo, macaco neoténico. Isto é, um macaco que retardou o seu desenvolvimento embrionário, permitindo aos indivíduos dessa espécie, terem mais tempo para aprenderem e atingirem um desenvolvimento cada vez mais complexo.
{«O carácter distinto constitutivo do homem», escreve Lorenz, «a conservação de uma capacidade de adaptação activa e criadora, com desenvolvimento próprio, é um fenómeno de neotenia.
Esta superioridade, que faz a sua grandeza, determina igualmente a extrema fragilidade da espécie humana. O camarão, no momento da muda, deve abandonar a sua crosta: fica então mais vulnerável que nunca. O homem está em "muda" durante toda a vida. Ele pode sempre imaginar-se outro e querer-se melhor. Ele cria-se, forma-se, ultrapassa-se, mas colocando-se sempre em perigo. O homem, diz Gehlen, é um "ser arriscado": tem «constitutivamente uma hipótese e se perder».
Existe também uma relação estreita entre a neotenia e o carácter durável da curiosidade e da imaginação.
O pensamento humano é essencialmente imaginativo. Desenvolve-se sem o socorro de objectos concretos, e "constrói" por simples curiosidade. O homem pode aprender, por exemplo, novas coordenações motoras sem ter ele próprio praticado os exercícios. Pode exprimir sentimentos que nunca sentiu. O seu saber não se alimenta somente de experiências, mas também de intuições, de análises, de deduções. Nós jogamos com os conceitos que o nosso espírito contém. («O homem só é perfeitamente homem quando joga», dizia Schiller.)}
Este joga equivale ao play da língua inglesa e tem toda a riqueza semântica que justifica a sua aplicação ao ser do homem. O homem imagina e escreve histórias, a sua própria história, desempenha os seus papeis sociais, ora em diálogo, ora em monólogo. Com público ou só para si; e nem precisa de se olhar ao espelho, tudo se passa dentro do seu pensamento.
Etiquetas: Alain de Benoist, Evolução, fetalisação, Gehlen, Homem, hominização, Lorenz, neotenia, Pombal, Schiller
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