Blogue do Maia de Carvalho

POR TRÁS DE CADA GRANDE FORTUNA HÁ UM CRIME. Honoré de Balzac

segunda-feira, fevereiro 23, 2015

QUE PARVAS ASSOCIAÇÕES EU, ALGUMAS VEZES, FAÇO.

Que se passa para eu associar dois seres impossíveis de emparelhar?  Antero de Quental - «Num sonho todo feito de incerteza», com Florbela Espanca - «No divino impudor da mocidade»? Terá o amor profano assim tanto a ver com o amor de santidade?
Talvez a razão possa ser inferida pelo comentário do próprio Antero ao seu poema, citado por Maria Ema Tarracha Ferreira, em "Antologia Literária Comentada", séc. XIX: « ... composto por um monge da Idade Média (aí pelo século 13.º), na solidão suave-austera do Monte Cassino, contemporâneo talvez do autor da Imitação de Cristo, e é dirigido à Virgem Cheia de Graça do sentimento cristão, a que mais tarde um pagão ilustre deu o nome de Eterno Feminino». E acrescentava: « ... posso chamar-lhe um salmo, uma efusão religiosa, porque está ali, com efeito, a minha religião, o meu culto da existência supra sensível, sem o qual não sei o que faria desta minha pobre existência sensível (hélas! trop!).
António Sérgio, citado na mesma fonte, também afirma: «Que importa que a inteligência rejeitasse a divindade, e os "sistemas" não admitissem os dogmas, se o Cristianismo lá estava no fundo do carácter, na maneira de sentir, na "pessoa toda inteira"?» O que é comum a tantos ateus.
Deve ser isto tudo, talvez mal digerido na minha cabeça. que me levasse a associar estes dois sonetos de autores tão distintos quanto podem ser um homem, dito racional, de uma mulher, dita emocional. Que esta distinção entre masculino e feminino, também não pode ser tomada à letra: há homens assustadoramente afectivos e mulheres aterradoramente racionais.
Diga o que disser, só sei que são dois poemas lindíssimos que me tocam profundamente e não sei qual deles mais me atordoa.

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quinta-feira, fevereiro 19, 2015

CRÉDULOS E CRENTES TUDO A MESMA GENTE

Custa-me a crer que haja pessoas que acreditem em tudo o que ouvem ou lêem. Mas olhando para o que se continua a dizer e escrever fico convencido que sim, há crédulos e crentes por todo o lado. Eu não quero pensar que sou mais esperto que os outros mas vamos lá seguir um raciocínio. O dinheiro não é volátil (embora pareça), ora, se até uma certa data havia e depois deixou de haver, só posso acreditar que mudou de lugar,  nunca que se evaporou.
Há quem fale em "bolhas", que em 2008, uma bolha rebentou e o seu rebentamento levou bancos e bolsas de valores a quedas bruscas e abissais. Ora esta metáfora da "bolha" esconde jogos baixíssimos ou sujíssimos de sorte e azar, mas num casino onde todos os jogos são propositadamente viciados para que a casa nunca tenha prejuízo.
Talvez por ser filho e neto de gente honrada, nunca acreditei em jogos de sorte/azar e considerei sempre as Bolsas de Valores e as aplicações financeiras vendidas pelos Bancos, negócios escuros, que, por estarem longe da minha compreensão, seriam facilmente sujeitos a batota.
Sempre acreditei no trabalho como factor de vida, nunca como forma de enriquecer. Aliás,  sempre me convenci de que, como os bens materiais são finitos, se alguém fica com muitos, outros ficarão sem nenhuns. Por isso, quando oiço alemães e outros, a dizerem que ajudaram os gregos e os portugueses a viverem, eu farto-me de rir, porque eles confundem os bancos e as bolsas de valores destes países, com a generalidade dos seus povos. O dinheiro absorvido supostamente pelos países do sul, não foi parar às mãos, ou serviram para pagar o trabalho das pessoas. Destinou-se sempre a financiar bancos ou instituições de gestão de valores monetários, não mais valiosos que empresas de apostas viciadas, onde poucos ganham muito e quase todos perdem tudo.
Enquanto os mercados e os governos não se regerem por leis justas e reais valores humanos e sociais, bem nos podemos queixar da corrupção,  que não estamos a afirmar nada de consistente e real.

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sábado, fevereiro 07, 2015

AINDA A TRAMPA EM QUE ESTÃO A TRANSFORMAR A EUROPA

Os jornais continuam a desesperar-nos. Nada de positivo avança. Grécia, todos contra; Ucrânia, nem sim nem não, apenas nim.
Que é feito dos valores humanos respeitados por todos os europeus antes desta união fictícia? Quando ainda no Liceu, logo a seguir a II Grande Guerra, se começou a falar de um mercado único, como se tinha feito recentemente com a BENELUX, todos críamos que as pátria se manteriam, isto é, que a multi-culturalidade europeia não fosse adulterada por uma união uniformizada, e muita gente alertou para a tentação dominadora dos ingleses, ou dos franceses, ou a mais perigosa, ontem como hoje, da Alemanha.
Havia um movimento internacional da direita (proibido em Portugal), a «Jeune Europe», a que aderi nas ilusões da juventude. Mas, embora tendo aprendido bastante, sobre política e acção directa, cedo desconfiei (todas as ideias revolucionárias nos parecem lindas no seu começo) da criação de uma Europa como uma só nação, um só governo, mesmo numa versão federal.
Aliás já se adivinhava o falhanço dessa americanização da Europa. A tradição europeia era muito diferente de algumas tradições coloniais que se criaram como países federados, que correspondiam, salvo seja, a conceitos sociais e da pessoa, muito diferentes do que sempre se vivera na Europa. (Eram europeus de refugo, principalmente muitos dos colonizadores dos séculos XVIII, XIX e XX.)*
A Europa já conhecera, ao correr da sua longa História, dois ideias ( ou práticas) políticas, e que ambas, por motivos diferentes tinham falhado: A ideia imperial dos romanos que muitos chefes europeus foram cultivando e derrotando ao longo dos séculos, e a ideia grega, que funcionou como como cultura e civilização de pequenas repúblicas ou reinos independentes mas com a mesma cultura de costumes, deuses e língua e que se esvaziou de significado político, logo que um chefe Grego, se se pode chamar grego a um Macedónio, se lembrou de conquistar um grande Império.
O desmembrar, mesmo que violento do Império de Alexandre Magno, deu grandes frutos culturais nas novas culturas do oriente europeu e da parte ocidental das penínsulas e outra partes do continente asiático.
A ideia imperial dos romanos foi-se aguentando até ao alvorecer da Idade Média, mas logo que o exército romano deixou de sr romano e passou a acolher milhares e milhares de mercenários, desapareceu. Há várias razões para isso: a baixa natalidade dos romanos, o judaísmo e cristianismo que dava coesão aos estrangeiros cada vez mais numerosos em Roma e aos bárbaros, muitos deles cristianizados ou dispostos a deixarem-se baptizar, sedentos que estavam, de riquezas a qualquer preço. Mesmo que isso implicasse a renúncia às suas tradições religiosas ancestrais.
Hoje voltamos a viver numa Europa rodeada de bárbaros, sedentos das riquezas acumuladas e conhecedores das fraquezas pseudo-humanistas dos europeus. As migrações de africanos, asiáticos e americanos para a Europa são o equivalente contemporâneo das invasões bárbaras que deram origem a uma nova época, na altura a Idade Média, agora uma outra cujo nome ainda não sabemos.
* (Embora entre eles surgissem, mas isolados, homens de altíssima estatura moral, que a populaça odiava e eliminava sempre que podia.)

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Pombal, 2015-02-05

Fui até ao Café para escrever, beber a bica e ler o Público mas não escrevi nem um simples apontamento.
Agora aqui, depois de beber outro café, queria ler e escrever alguma coisa sobe o Homem no seu estado natural, como se fosse possível, fora da paleontologia saber-se como era o homem em estado natural. Um Homo naturalis não existe, é uma animal primata qualquer de transição, no caminho da hominização, é um animal talvez tão aberrante como concentrarmos na actualidade, um símio carnívoro, caçador social.
Duas palavras novas no meu vocabulário do calão da zoologia: fetalisação (foetalisation) e neotenia (néoténie). Esta última já a tinha encontrado quando estudei a hominização e encontrei um autor que chamava ao Homo, macaco neoténico. Isto é,  um macaco que retardou o seu desenvolvimento embrionário, permitindo aos indivíduos dessa espécie, terem mais tempo para aprenderem e atingirem um desenvolvimento cada vez mais complexo.
El cráneo de chimpancé joven (azul) se asemeja mucho más a la estructura craneal del humano adulto que el cráneo del chimpancé adulto (rojo).
(http://antroporama.net/neotenia-el-defecto-que-nos-permitio-tener-un-encefalo-mas-grande/)
No livro que estou a ler: «NOVA DIREITA   NOVA CULTURA», de Alain de Benoist, cheguei a um capítulo intitulado: "O homem será apenas um animal?" Ainda não extraí conclusão nenhuma mas tenho-me deparado com conceitos muito curiosos. Um exemplo, na pág.165/166, diz-se:
{«O carácter distinto constitutivo do homem», escreve Lorenz, «a conservação de uma capacidade de adaptação activa e criadora, com desenvolvimento próprio, é um fenómeno de neotenia.
Esta superioridade, que faz a sua grandeza, determina igualmente a extrema fragilidade da espécie humana. O camarão, no momento da muda, deve abandonar a sua crosta: fica então mais vulnerável que nunca. O homem está em "muda" durante toda a vida. Ele pode sempre imaginar-se outro e querer-se melhor. Ele cria-se, forma-se, ultrapassa-se, mas colocando-se sempre em perigo. O homem, diz Gehlen, é um "ser arriscado": tem «constitutivamente uma hipótese e se perder».
Existe também uma relação estreita entre a neotenia e o carácter durável da curiosidade e da imaginação.
O pensamento humano é essencialmente imaginativo. Desenvolve-se sem o socorro de objectos concretos, e "constrói" por simples curiosidade. O homem pode aprender, por exemplo, novas coordenações motoras sem ter ele próprio praticado os exercícios. Pode exprimir sentimentos que nunca sentiu. O seu saber não se alimenta somente de experiências, mas também de intuições, de análises, de deduções. Nós jogamos com os conceitos que o nosso espírito contém. («O homem só é perfeitamente homem quando joga», dizia Schiller.)}
Este joga equivale ao play da língua inglesa e tem toda a riqueza semântica que justifica a sua aplicação ao ser do homem. O homem imagina e escreve histórias, a sua própria história, desempenha os seus papeis sociais, ora em diálogo, ora em monólogo. Com público ou só para si; e nem precisa de se olhar ao espelho, tudo se passa dentro do seu pensamento.

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