Restauração de 1640
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Quando eu era menino e andava na escola, estudava-se História de Portugal, na quarta classe. Chegava-se à quarta dinastia (a História tinha uma sequência cronológica, estudava-se dinastia a dinastia e, dentro destas, rei após rei) a Restauração empolgava-me e, ingenuamente, julgava que aquilo tinha sido ir ao Paço, acabar com o governo da “Vice-Rainha”, Duquesa de Mântua e do traidor, Miguel de Vasconcelos, trocar o Filipe IV pelo D. João IV e já estava: - todos os portugueses felizes e contentes por haver de novo rei português.
Hoje, mais lúcido e mais lido, sei que não foi nada assim. A Guerra da Restauração não fora vinte e oito anos de lutas contra os Castelhanos. Houve muita resistência interna que custou sangue, perseguições, prisões e degredos.
Uma guerra palaciana e diplomática muitas vezes suja, que deixou marca aqui em Pombal, a Igreja e o Convento do Cardal é uma das suas consequências!
Os pombalenses incham de orgulho com o seu marquês e esquecem a família dos seus alcaides, os Vasconcellos e Sousa.
Uma das maiores desilusões que tive, como professor, foi chegar a uma turma do 5º ou 6º ano do Agrupamento de Escolas do Conde Castelo Melhor e não encontrar um único aluno que soubesse, por exemplo, que a Igreja do Cardal resultara de um voto do 3.º Conde de Castelo Melhor, quando andou fugido dos esbirros partidários de D. Pedro II, ele que havia sido o Secretário de Estado mais seguro e competente de D. Afonso VI.
Na sequência das leituras que estou a fazer sobre esta época, encontrei um texto muito curioso, que revela bem o espírito crédulo e até tacanho dos portugueses, já naqueles dias.
Conta-se em poucas palavras e vem descrito na BIBLIOTHECA HISTÓRICA DE PORTUGAL E SEUS DOMINIOS ULTRAMARINOS, publicada em Lisboa, no ano de
«Conta-se que D. Rodrigo da Cunha, naquele tempo, dia 1º de Dezembro de 1640, ainda arcebispo de Lisboa, voltando processionalmente da Sé para o Paço, a tomar posse do seu cargo de Governador enquanto o Rei não chegava de Vila Viçosa, passando defronte da Igreja de Santo António, próxima à Sé, para satisfazer o inumerável Povo que lhe pedia a Bênção, se vira despregado o braço direito da Sagrada Imagem de Jesus Cristo, que levava o Padre Nicolau da Maia, seu Cruciferário, em forma de que também abençoava o mesmo Povo, o que foi interpretado por Divina aprovação da Aclamação do Sr. D. João IV…»
Mais curiosa ainda é a noticia, sobre este mesmo assunto, publicada na GAZETA de Novembro de 1641:
«Num lugar da Beira se afirma que houve um homem, que ouvindo dizer numa conversação de amigos que na feliz aclamação d’el Rei, nosso Senhor, fizera o crucifixo da Sé o milagre, que a todos é notório. Disse que podia acaso a imagem do Senhor despregar o braço; e assim como acabou de dizer estas palavras caiu uma parede junto da qual estavam todos os da conversação e só a ele matou.»
Nestes conturbados tempos até a justiça Divina era bárbara!
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