Blogue do Maia de Carvalho

POR TRÁS DE CADA GRANDE FORTUNA HÁ UM CRIME. Honoré de Balzac

segunda-feira, abril 23, 2007

Arquivo Municipal de Pombal

Palácio dos Agorreta e Arquivo Municipal, na Praça Marquês de Pombal (clique na imagem para aumentar)

Hoje, finalmente, tirei parte da minha manhã para ir ao Arquivo Municipal. Não passei da portaria mas gostei.

É recepcionista, nestas instalações municipais, a D. Ana Rosa (para mim será sempre menina) que conheci na Escola Secundária de Pombal e, enquanto fui adjunto do Presidente da Câmara, era a recepcionista dos Paços do Concelho. Está excessivamente magra, o que não a favorece muito, mas quando lhe disse ao que ia logo me indicou o Dr. Nelson com o qual iniciei a minha conversa, tentando saber qual era o espólio já consultável. Entretanto chegou a minha amiga Dra. Fernanda Pinto e entrámos imediatamente no assunto não sem antes termos feito “uma grande festa” um ao outro pois já há muitos anos não nos encontrávamos. Disse-me que o inventário estava feito mas ainda não acessível ao público... O trabalho prioritário era o que interessava imediatamente à Câmara, nomeadamente à DOMA, se percebi bem, Departamento de Obras Públicas Municipais.

Conversámos sobre o meu interesse em livros de actas da Câmara antigos, principalmente os contemporâneos da extinção dos conventos, os referentes à reforma dos concelhos de 1838 e ao 2º Semestre do ano de 1910, por causa das reacções da Câmara à implantação da República. Disse-me que os livros já tinham sido desinfestados mas que ainda não estavam à consulta pública. Ficou com o meu contacto telefónico para me avisar logo que fosse possível consultar os livros de actas que me interessavam e de igual modo a relação do acervo total do Arquivo.

Como me havia falado que os documentos mais antigos que possuía eram de 1740, logo lhe perguntei se, e como estava a mexer em documentação de Obras no concelho, teria alguma coisa de 1793 a 1795, sobre a Ponde de D. Maria Teresa, no Arunca. Respondeu-me que não, que não tinha notícia que existisse qualquer documentação sobre aquela ponte, que certamente só na Torre do Tombo ou no Arquivo Distrital encontraria alguma coisa. Falámos do quanto era fácil, para alguns documentos, encontrá-los na Internet e dei-lhe como exemplo de serviço bem organizado, o oferecido pelas universidades brasileiras, que até as teses dos seus Cursos disponibilizam on-line e gratuitamente.

Despedimo-nos combinando passar por lá mais vezes para me manter ao corrente dos desenvolvimentos do acervo documental.

E pronto, não consegui nada mas foram muito simpáticos.

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domingo, abril 22, 2007

A Fenprof continua de pedra e cal

Um negociador e um comunicador nato!




Hoje tenho, pelo menos, duas boas razões para estar contente: - a FENPROF foi a votos com duas listas e ganhou a encabeçada por Mário Nogueira.

Já há muitos anos que se votava em lista única nesta Federação Sindical (sou sindicalizado desde 1983) e sempre houve uma lista única, haver duas é um real avanço democrático. Mário Nogueira dá-me garantias de os interesses dos professores e da Escola Pública continuarem a ser bem defendidos.

Bem Hajas, Mário!

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quinta-feira, abril 19, 2007

A Razão do Erro de ontem

Público de ontem. Clique na imagem se quiser aumentá-la

Eu acho que há sempre razões para errar. Aliás, errar é uma das nossas condições mais naturais. Foi por isso que, como divisa primeira deste blogue, eu afirmava:

Engano-me muitas vezes e raramente tenho certezas!

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Descaradamente publicitários

A conferência de imprensa da Universidade Independente, transmitida ontem em horário nobre, foi de uma esperteza saloia confrangedora. [Deviam ter um excelente curso de Marketing]. Não disseram positivamente nada com interesse, prepararam, com sucessivos adiamentos, uma expectativa que acabaram por frustrar. Que pretendiam tais senhores? Nada, apenas publicidade gratuita e tentarem lavar os rostos da continuada sujidade com que os haviam coberto.

Graças a Deus que ainda há ensino público!

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quarta-feira, abril 18, 2007

Turismo Cultural e Religioso

Hoje, dia dos museus e dos monumentos, é um bom dia para meditarmos sobre turismo cultural.

Tencionava como nos anos anteriores visitar algum museu aqui nos arredores. O ano passado estive no Rabaçal, no museu da Vila romana e este ano era para revisitar o Machado de Castro, em Coimbra. Por motivos que não vêm a propósito acabei por não sair de Pombal.

Não consta que houvesse qualquer animação nas unidades museológicas da cidade. Ontem visitei o também abandonadinho Museu de Arte Popular. Em todo o Centro Cultural uma única pessoa, a funcionária da limpeza. No bar ninguém (podia até me ter-auto-servido de café), no museu do artesanato também ninguém. É claro que também não havia visitantes, salvo eu, mas se houvesse o resultado era o mesmo.

É possível que os espaços lúdico-culturais não estejam tão abandonados mas é altura de inventariar quais são e como estão a ser geridos os poucos locais culturais de que o concelho dispõe.

Pombal não é rico em monumentos de real valor artístico mas tem vários de valor histórico incontestável que seria do maior interesse cuidar.

É um dado histórico e sociologicamente comprovado que os pombalenses não são defensores do seu património cultural. [Não considero pombalenses aqueles que, mesmo tendo nascido em Pombal, não residem cá. Só os residentes têm, em meu entender, direito a pronunciarem-se sobre o presente e o futuro da cidade.]

As várias depredações consentidas são disso prova clara.

Um pelourinho que desaparece sem deixar de si nem um desenhito (havia nos claustros dos paços do concelho, aqui há uns anos, um rolo grosso de pedra que alguns diziam ser do Pelourinho, mas ninguém deu provas suficientes) é um atentado grave às prerrogativas de um concelho dos mais antigos do país e os burgueses da vila deixaram que o Senhor [Marquês de Pombal] o mudasse do local onde sempre costumavam estar – junto ao edifício da câmara que também desapareceu – para uma outra praça junto ao rio onde, pensa-se (só suspeições), os franceses da terceira invasão acabaram com ele.

Pombal é pródigo em desperdiçar oportunidades: - o Turismo Religioso, por exemplo. Deus pôs-nos no caminho de Fátima, todos os meses milhares de peregrinos atravessam a nossa cidade mas nunca vi nenhuma iniciativa dedicada a demorá-los mais tempo por cá e, sem os explorar, oferecer-lhe ocasião de visitarem as nossas igrejas e capelas e, demorando-os mais, aumentar os réditos do comércio local.

Enquanto se pensar que o futuro turístico de Pombal está em destruir as dunas do Osso da Baleia, estamos conversados!

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Conclusão do folhetim da malfadada Ota


(conclusão)

As perguntas a que o governo ainda não respondeu ficam hoje todas aqui. Depois mais tarde se for necessário retomaremos o assunto. Espero que o senhor arquitecto que teve o cuidado de as propor ao governo dê pública noticia da resposta quando a houver.
Como disse, no primeiro post sobre este assunto, recebi o texto publicado por correio electrónico.

9 - Em que documento é que se encontra a avaliação do impacto da deslocalização do aeroporto no turismo e na economia da cidade e da Área Metropolitana de Lisboa?

10 - Em que documento é que se encontra a avaliação do impacto urbanístico decorrente da deslocalização do aeroporto para um local a 45 km do centro da capital?

11 - Em que documento é que se encontra a avaliação do impacto da deslocalização dos empregos e serviços decorrente da mudança do aeroporto para a Ota?

12 - Em que documento é que se encontra equacionado o cenário da necessidade de construir um outro aeroporto daqui a 40 anos, quando o Aeroporto da Ota se encontra saturado?

13 - Que medidas estão previstas para existir uma tributação especial das enormes mais-valias que terão os proprietários dos terrenos envolventes à zona do aeroporto (e não afectados pelas expropriações) que até ao momento estão classificados como Reserva Ecológica Nacional ou Reserva Agrícola Nacional e passarão a ser terrenos urbanizáveis?

14 - Em que documento se encontra a explicação para ter sido considerada preferível uma localização para o novo aeroporto que "roubará" mercado ao Aeroporto Sá Carneiro em detrimento de captar o mercado de Estremadura espanhola?

15 - Porque é que a localização na Base Aérea do Montijo não foi sequer considerada, quando apresenta inúmeras vantagens (14 km ao centro da cidade, posição central na Área Metropolitana, facilmente articulável com o TGV, possibilidade de ligações fluviais, urbanisticamente controlável)?

16 - Qual é a explicação para que a articulação entre as duas infra-estruturas construídas de raiz (Aeroporto da Ota e Linha de Alta Velocidade Lisboa - Porto) obrigue a um transbordo de passageiros numa estação a 2 km da aerogare?

17 - Porque é que se optou por uma localização para o aeroporto que implicará um traçado da Rede de Alta Velocidade com duas entradas distintas em Lisboa, cada uma delas avaliada num valor da ordem de mil milhões de euros (percurso Lisboa/Carregado e Terceira Travessia do Tejo), quando um aeroporto localizado na margem Sul funcionaria perfeitamente só com a nova ponte?

18 - Qual é o valor do sobre custo do traçado da Linha de Alta Velocidade Lisboa - Porto na margem direita do Tejo, por oposição ao traçado pela margem esquerda, fazendo a travessia na zona de Santarém?

19 - Porque é que a ligação ao Porto de Sines será construída em bitola ibérica, quando bastava que o traçado da linha Lisboa - Madrid passasse a Sul da Serra de Monfurado (um aumento de apenas 8 Km) para que fosse viável a construção de um ramal de AV para Sines (e posteriormente para o Algarve) a partir de um nó a localizar em Santa Susana (concelho de Alcácer do Sal)?

20 - Na análise custo - benefício do investimento da Linha de Alta Velocidade Lisboa - Porto foi considerada a concorrência do Alfa Pendular (na actual Linha do Norte), o facto de o traçado não permitir o transporte de mercadorias e a necessidade de mudança de transporte para percorrer a distância das estações intermédias aos centro das respectivas cidades (Leiria, Coimbra, Aveiro)?

21 - Por último, em que relatório se encontra a recomendação da Ota como melhor localização para o novo aeroporto por comparação com as outras alternativas possíveis (Rio Frio, Base Aérea do Montijo, Campo de Tiro de Alcochete, Poceirão)?

Antecipadamente grato pela disponibilidade de V. Exa para responder a estas 21 questões, subscrevo-me com os meus melhores cumprimentos,

Luís Maria Gonçalves, Arqº

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terça-feira, abril 17, 2007

Perguntas sobre a Ota que ainda não foram respondidas


(continuação)

6 - Porque é que o "Estudo Preliminar de Impacto Ambiental" para o aeroporto na Ota usou os dados dos Censos de 1991 para calcular o impacto do ruído das aeronaves sobre a população, quando existiam dados de 2001 e uma das freguesias mais afectadas (Carregado) mais do que duplicou a sua população desde 1991?

7 - Em que documento é que são comparados objectivamente (com outras hipóteses de localização) os impactos económicos e ambientais associados à opção da Ota (desafectação de 517 hectares de Reserva Ecológica Nacional; abate de cerca de 5000 sobreiros; movimentação de 50 milhões de m3 de terra; "encanamento" de uma bacia de 1000 hectares a montante do aeroporto; impermeabilização de uma enorme zona húmida; necessidade de expropriar 1270 hectares)?

8 - Em que documento é que se encontra identificada a coincidência do enfiamento de uma das pistas da Ota com o parque de Aveiras da Companhia Logística de Combustíveis (a apenas 8 km) e avaliadas as consequência de um possível desastre económico e ecológico decorrente de desastre com uma aeronave?

Luís Maria Gonçalves, Arqº

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Mais perguntas

(continuação)

Não são nossas estas perguntas mas é nosso o grande interesse em que as mesmas sejam respondidas:

3 - Porque é que todos os estudos e documentos disponibilizados, elaborados entre 1999 e 2005, incluindo o "Plano Director de Desenvolvimento do Aeroporto", tiveram como premissa a localização na Ota, considerada nessa altura como a pior e mais cara opção?

4 - Porque é que o documento apresentado como suporte da decisão de localização na Ota é apenas um "Estudo Preliminar de Impacto Ambiental", no qual questões determinantes para a localização de um aeroporto (operações aéreas, acessibilidades, impacto na economia) foram tratadas de um modo superficial, ou não foram sequer afloradas?

5 - Porque é que na ficha técnica do atrás referido "Estudo Preliminar de Impacto Ambiental" não constam especialistas nas áreas da aeronáutica e dos transportes?

Luís Maria Gonçalves, Arqº

(continua)

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segunda-feira, abril 16, 2007

Respostas mais importantes que diplomas

Vista parcial do local do novo Aeroporto

(continuação)

No dia 17 de Novembro, enviei um novo pedido de esclarecimento do qual voltei a não obter qualquer resposta.

Nesse sentido, venho novamente por este meio, como cidadão e contribuinte, solicitar a V. Exa. que providencie as respostas às seguintes questões, as quais me parecem legítimas e pertinentes:

1 - Porque é que o estudo elaborado pela ANA em 1994 (que identifica a Base Aérea do Montijo como a melhor localização para o novo aeroporto e que classifica a Ota como a pior e mais cara opção) não se encontra disponível no site da NAER?

2 - Porque é que o estudo elaborado pela Aeroportos de Paris em 1999 (que recomenda a localização do NAL no Rio Frio e que classifica a Ota como pior opção) não justifica o facto de não ter sido sequer considerada a opção recomendada no estudo anterior?

Luís Maria Gonçalves, Arqº

(continua)

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sexta-feira, abril 13, 2007

Quando o Museu era nos Paços do Concelho






Expositor do antigo museu. Foto tirada por mim, provavelmente, em 1996.

Nas três prateleiras visíveis, só a do meio tem peças com o brasão de família do Marquês. Na do fundo, à esquerda, está, julgo eu, a tal peça manuelina que tanto nos intrigou: - A mim e ao Dr. Joaquim Eusébio.


Poder-se-á algum dia estudar esta peça a sério?

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Porque e Onde construir o Novo Aeroporto


Recebi, por correio electrónico, um texto elaborado pelo Arquitecto Luís Gonçalves em que este senhor coloca ao Governo da República algumas perguntas ainda não cabalmente respondidas sobre a opção da construção do Novo Aeroporto de Lisboa na Ota. O texto é bastante extenso e perder-se-ia muito do seu impacto se fosse publicitado num único post.

Por isso peço desculpa ao autor e vou dividir o texto em porções mais pequenas em meu entender mais imediatamente assimiláveis. Aí vai:

Diligências efectuadas sobre este assunto, pelo Arq. Luís Gonçalves, junto do ministro das Obras Públicas.

Porque as dúvidas e os argumentos ali expostos, são de manifesto interesse público, passo a divulgar o referido documento:

Exmo. Senhor Ministro das Obras Públicas, Transportes e Comunicações

No passado mês de Maio, enviei uma mensagem electrónica a V. Exa. e uma outra a S. Exa. o Primeiro-Ministro, solicitando um esclarecimento ao processo de decisão da localização do Novo Aeroporto de Lisboa.

Passado pouco mais de mês, recebi de ambas as partes ofícios informando-me que teria sido dada a devida atenção à minha mensagem e que as minhas considerações estariam a ser objecto de análise.

No entanto, não tendo desde então recebido qualquer esclarecimento, prossegui a análise dos vários estudos e documentos disponibilizados pelo Ministério das Obras Públicas, Transportes e Comunicações (ou por entidades por ele tuteladas), referentes aos processos do Novo Aeroporto de Lisboa e da Rede Ferroviária de Alta Velocidade, verificando a existência de algumas questões para as quais continuei a não encontrar resposta.

(continua)

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quinta-feira, abril 12, 2007

Retorno ao Museu Municipal








Era com esta dignidade que o Caixão, dito do Marquês estava exposto no espaço antigo, nos Paços do Concelho.


Hoje, pelas dez horas, voltei ao Museu. Estava aberto. Ainda não o tinha visitado nas novas instalações, está lindo! Tudo muito limpinho e bem iluminado, parecia um Centro de Saúde dos recém construídos, muito higiénico e desinfectado. Portas automáticas abrem-se assim que nos aproximamos, ao nosso lado direito, sobranceira à escada que conduz ao andar térreo, uma moderna secretária bem equipada com computador e telefone e muitos papeis dando um ambiente sóbrio de trabalho. O telefone funciona, ouvi-o tocar e a menina atendeu, o computador não sei se trabalha mas, mesmo que trabalhe, não contém dados sobre o acervo do museu, pois, quando inquiri a menina sobre a peça manuelina que procurava ela, muito solícita, tomou apontamento numa folha de papel para depois interrogar a responsável, Dra. Cidália Botas sobre o paradeiro de tal preciosidade. Sobre a possibilidade de a menina ou alguém me acompanhar ao edifício de apoio ao Museu e tentarmos procurar pela peça, foi-me dito que não podia ser, pois, essas peças tiveram de ser retiradas de onde estavam e levadas para o primeiro piso desse edifício já que o local onde se encontravam tinha sido cedido pelo Sr. Presidente para o Centro de Emprego. Eu ouvi bem, a menina não disse a Câmara Municipal cedeu, disse. O Sr. Presidente cedeu.

A menina, muito agradável, chama-se Sandra e não faz a apologia do Marquês mas também não o maldiz, deixa-nos descobrir tudo sozinhos.

Nota para a minha leitora e comentadora Diabba:

“Querida Diabbinha, não venha a Pombal ver a preciosa peça manuelina, ela não está exposta. Veremos se ainda faz parte do acervo do Museu Municipal.”

Amanhã retomarei as minhas impressões sobre este excelente melhoramento nos equipamentos culturais do concelho: É muito espaçoso!

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quinta-feira, abril 05, 2007

Visita Frustrada ao Museu Municipal













Por qualquer razão tropecei num pequeno apontamento que, num caderno já de há algum tempo, eu tinha tomado sobre um objecto manuelino do Museu Municipal do Marquês de Pombal que tinha comentado com o Professor Eusébio, autor do livro “ Pombal, Oito Séculos de História”.
Ambos nos tínhamos admirado que estivesse no Museu Marquês de Pombal uma peça manuelina, datada e em estado muitíssimo bom.
O meu texto era o seguinte:
«”Um objecto de uso corrente manuelino”
Uma das peças mais interessantes do Museu Municipal Marquês de Pombal não tem nada a ver com o nome do museu. É uma peça linda, datada e misteriosa.
Maravilhamo-nos perante as sucessivas aparições de bonecas russas, muito coloridas, umas de dentro das outras cada vez mais pequenas.
Desta peça também se soltam sucessivos, idênticos e cada vez mais pequenos vasos encaixados.
É um artefacto de bronze belamente decorado com o característico barroquismo manuelino – esferas armilares, cordas, nós. Os caracteres da data, mil quatrocentos e noventa e nove (um ano após a chegada de Vasco da Gama à Índia) são lindos caracteres “góticos” [1499] (muito mais decorativos do que eu aqui consigo indicar).
Para que serviria?»
Foi aqui que observando o conjunto de vasos encaixados, eu e o Dr. Eusébio presumimos que seria uma ferramenta de almotacé.
O almotacé era o funcionário municipal encarregado de velar pela aferição dos pesos e medidas usados no comércio (feiras e mercados) e concomitantemente fiscalizar preços e margens de lucro. Cobrava também as taxas devidas pelas transacções comerciais.
Como entretanto esta relíquia (parece que só se conhece outra provavelmente guardada em Barcelos) deve ter sido transferida para as novas instalações do Museu e enquanto esteve exposta no espaço museológico dos Paços do Concelho eu pude manuseá-la vários vezes na presença da então curadora do Museu, D. Maria Helena Pessa, mas, embora chegasse a ter agendada uma sessão fotográfica desta “Caixa de Aferição de Medidas”, nunca pude, por outros compromissos, executar tais fotografias.
Hoje não era feriado e por isso, embora à boa maneira pombalense estes espaços de cultura tenham horários de repartições públicas de atendimento burocrático, eu dirigi-me ao Museu para confirmar a presença da peça e possivelmente fotografá-la, nas suas modernas instalações.
Nada feito. Tudo fechado e sem qualquer, – nem que fosse uma folhinha de A4 afixada com fita-cola, – razão plausível para a seu encerramento. «Que cartão de visita se fosse um turista ou um grupo de visitantes que quisesse examinar ou admirar um dos poucos locais de turismo cultural existentes no Concelho!»
Logo a seguir, já na Rua Direita, encontrei a minha amiga e colega Zulmira do Canto, com quem comentei e nos rimos, mais uma vez, destas atitudes da Câmara de Pombal. {Atenção ri-me da Câmara e não do Presidente, porque, nos termos da Constituição da República, a Câmara é um órgão colegial, logo co-responsável pelos actos cometidos}
Na impossibilidade de visitar o museu, tentei informar-me na secção de apoio ao museu, sita na rua do lado oposto. Aqui, como havia luzes acesas e ruído de vozes no seu interior, toquei repetida e malcriadamente às várias campainhas. Nada, ninguém se dignou atender à porta. No entanto, sobre uma mesa na parece do fundo repousava acusadoramente uma mala de senhora e um saco de plástico verde...
Pobre actividade turística de Pombal como poderá ser rentável?
Saberá a edilidade que, por exemplo, o mais lucrativo monumento nacional arrecada cerca de 1 300 000 € por ano em entradas, eventos, animação e merchandising? Que esperamos? Que os “engenheiros empreiteiros” acabem definitivamente com a cultura na nossa terra?

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