Noite Bengali

Acabei, no Sábado, o livro que andava a ler – A Noite Bengali de Mircea Eliade. (Edição de 1961)
É uma história de amor, de um amor; exótica, porque entre um europeu e uma indiana, narrada como uma peça musical em crescendo até ao clímax da entrega, desvendando ao leitor um bocadinho de cada vez do emaranhado das ideias, do conflito ideológico inter-cultural, da orgia das sensações até ao pico da resolução e a queda brusca para o desenlace final, ia a dizer trágico, mas é apenas triste.
Para dar um gostinho, aí vão os últimos parágrafos.
«Estou a reflectir há horas e horas. Nada consigo decidir. Telegrafar a Narendra Sen? Escrever a Maitreyi?
Sinto que cometeu essa loucura por mim. Se eu tivesse lido as cartas que me trazia Khokha! Talvez ela tivesse um plano?.. A minha alma está perturbada, perturbada... E no entanto quero escrever tudo, tudo.
...E se por acaso não houvesse nisso senão uma enorme farsa? Uma boa partida que a minha paixão me pregou? Porque hei-de acreditar sem reservas? Que sei eu?
Quereria fitar Maitreyi no fundo dos olhos...
Janeiro - Fevereiro de 1933. »
Apontamento sobre Mircea Eliade – «Romancista e pensador romeno, especialista da filosofia hindu e da história das religiões (n. Bucareste, 9.3.1907; m. 22.4.1986). Durante os seus estudos na Índia (1929-1931), permaneceu meio ano num mosteiro dos Himalaias, Rishikesh, onde se familiarizou com as práticas do ioga, assunto da sua tese de doutoramento. Professor – Assistente da Universidade de Bucareste, em 1937, iniciou no ano seguinte a publicação Zalmoxis, Revue des Études Religieuses (Pa., 1938), interrompida pela guerra. Autor de mais de vinte vols. de lit. romena, Mircea Eliade continuou a sua obra em Londres (1940-1941) e Lisboa (1942-1944), como conselheiro cultural, fixando-se depois em Paris (1945), como prof. agregado na Escola dos Altos Estudos da Sorbona (1946-1948). Em 1957, foi-lhe oferecida a cadeira de História das Religiões pela Universidade de Chicago, onde ensinou. Escritor de renome, ensaísta erudito e polivalente, é um mestre das religiões orientais e um humanista completo.»
ELBC, Verbo