Blogue do Maia de Carvalho

POR TRÁS DE CADA GRANDE FORTUNA HÁ UM CRIME. Honoré de Balzac

segunda-feira, novembro 27, 2006

Noite Bengali




Acabei, no Sábado, o livro que andava a ler – A Noite Bengali de Mircea Eliade. (Edição de 1961)

É uma história de amor, de um amor; exótica, porque entre um europeu e uma indiana, narrada como uma peça musical em crescendo até ao clímax da entrega, desvendando ao leitor um bocadinho de cada vez do emaranhado das ideias, do conflito ideológico inter-cultural, da orgia das sensações até ao pico da resolução e a queda brusca para o desenlace final, ia a dizer trágico, mas é apenas triste.

Para dar um gostinho, aí vão os últimos parágrafos.

«Estou a reflectir há horas e horas. Nada consigo decidir. Telegrafar a Narendra Sen? Escrever a Maitreyi?

Sinto que cometeu essa loucura por mim. Se eu tivesse lido as cartas que me trazia Khokha! Talvez ela tivesse um plano?.. A minha alma está perturbada, perturbada... E no entanto quero escrever tudo, tudo.

...E se por acaso não houvesse nisso senão uma enorme farsa? Uma boa partida que a minha paixão me pregou? Porque hei-de acreditar sem reservas? Que sei eu?

Quereria fitar Maitreyi no fundo dos olhos...

Janeiro - Fevereiro de 1933. »

Apontamento sobre Mircea Eliade – «Romancista e pensador romeno, especialista da filosofia hindu e da história das religiões (n. Bucareste, 9.3.1907; m. 22.4.1986). Durante os seus estudos na Índia (1929-1931), permaneceu meio ano num mosteiro dos Himalaias, Rishikesh, onde se familiarizou com as práticas do ioga, assunto da sua tese de doutoramento. Professor – Assistente da Universidade de Bucareste, em 1937, iniciou no ano seguinte a publicação Zalmoxis, Revue des Études Religieuses (Pa., 1938), interrompida pela guerra. Autor de mais de vinte vols. de lit. romena, Mircea Eliade continuou a sua obra em Londres (1940-1941) e Lisboa (1942-1944), como conselheiro cultural, fixando-se depois em Paris (1945), como prof. agregado na Escola dos Altos Estudos da Sorbona (1946-1948). Em 1957, foi-lhe oferecida a cadeira de História das Religiões pela Universidade de Chicago, onde ensinou. Escritor de renome, ensaísta erudito e polivalente, é um mestre das religiões orientais e um humanista completo.»

ELBC, Verbo

TOMÁMOS A VILA DEPOIS DE UM INTENSO BOMBARDEAMENTO




Alguém disse, referindo-se ao estabelecimento de um Estado Judaico, em 1948, na Palestina, que aquele acto iria trazer consequências terríveis e bárbaras durante mais de um ou dois séculos.

Quando me apercebo, pelos jornais e pela TV, do que se passa no Médio Oriente, cada vez me convenço mais que, fosse quem fosse, tinha razão.

«A CRIANÇA loura

Jaz no meio da rua.

Tem as tripas de fora

E por uma corda sua

Um comboio que ignora.

A cara está um feixe

De sangue e de nada.

Luz um pequeno peixe

– Dos que bóiam nas banheiras –

À beira da estrada.

Cai sobre a estrada o escuro.

Longe, ainda uma luz doura

A criação do futuro...


E o da criança loura?»

FERNANDO PESSOA
CANCIONEIRO


sábado, novembro 25, 2006

25 de NOVEMBRO







Hoje é dia de postar um texto politicamente incorrecto.

Faz anos que o capital internacional encontrou gente para afastar progressivamente o socialismo da jovem democracia portuguesa.

E o saque continua!

quinta-feira, novembro 23, 2006

Ciências Ocultas

Os anúncios dos jornais revelam-nos mais sobre a vida dos cidadãos que as notícias veiculadas pelos jornalistas.

Depois das páginas de relaxe, de encontros ou de convívios são as da astrologia, magia, ciências do oculto e afins as que mais gozo me dão.

Ele são professores, mestres, doutores, videntes e astrólogos de alto gabarito!

Só professores, descobri catorze: – ALAGE, KARAMBA, SOARES, teleconsulta; RACIDO, por correspondência; SIDIYA, resultados em 48 horas; BAMBO, MUSSÁ, DIA, não lhe diga nada, ele diz tudo; ABDALLAH – este deve gostar de cerveja tem consultório junto à “PORTUGÁLIA”, SOARES, outro Soares mas este é de seriedade absoluta; FOFANA, KARIME, devolve amigos e amores perdidos; BAMBO, consulta também em Faro; SECO, especialista em problemas de amor

Eles estão em todo o lado – Lisboa, Faro, Marinha Grande, NAS MÃOS DESTES HOMENS PODE COLOCAR O SEU PROBLEMA, pois eles fazem – Rituais de Magia, Inveja, Impotência, Amor, Negócios, Drogas e Álcool, Dificuldade em engravidar... (Facilidades de pagamento); todos os problemas da família!

Doutor PEDRO; Mestre FATI, BAIO, SAMORI, sigilo absoluto; Mestre SILA, só paga depois de resultado positivo.

Astrólogo BAYO.

Vidente SARA DE JESUS; VIDENTE CURANDEIRO, só com o teu nome... aconselha sobre tudo, impotência, sem compromisso; VIDENTE A TRABALHAR COM O DR. SOUSA MARTINS; VIDENTE, Exorcista, amarrações fortíssimas; Vidente MARIA FERNANDA.

ESPIRITA, desfaz qualquer tipo de bruxaria; Espiritualista ANGÉLICA, amarrações diversas; MÉDIUM espírita, traições – descubra a verdade rápido.

TARÓLOGA, não há limitações, vai a casa; Taróloga ISABEL, venda de esotéricos.

AJUDO sem fins lucrativos, um telefonema pode mudar a sua vida!

KARIM, pode resolver os seus problemas conjugais

NÃO engano! Problemas amorosos em 7 dias

Cartomante MARCOS, três perguntas grátis.

MÃE SANTA, [quem a não tem], todas as magias, amarrações fortíssimas!

ESPECIALISTA que não engana; BENZEDOR, trago a pessoa amada. [Para onde?]

ABRIU, Telheiras, médium realiza tratamentos

PARAPSICÓLOGO, massagens DÂNTRICAS. [Está mesmo escrito assim]

DANGELUS, magia e luz, só amor.

HENRIQUE ROMA, convidado da Grande Reportagem SIC, à distância e em todo o país

Abençoado povo que crê na Senhora da Fátima e no Governo; e parece que em tudo o que lhe queiram impingir!

Novo referendo

«IVG?
E desde quando é que um aborto é verdadeiramente voluntário?
Para qualquer pessoa minimamente inteligente isto deveria bastar.

Outras liberalizações, na mesma lógica de «no meu corpo(e mente) mando eu!» poderiam ser:
- o suicídio
- a eutanásia
- o infanticídio em caso de deficiência grave
- a auto-mutilação
- os sacrifícios rituais (em atenção à liberdade religiosa)
- a desclassificação como tal de todas as doenças mentais
- a redução da idade maior para os 5 anos de idade
- o tráfico de orgãos de viventes, desde que por expressa vontade do dador
- a prostituição, em qualquer idade
-...
enfim!

IVG? Não obrigado!

Já agora...
alguém sabe quanto é que custa um referendo como este? »

http://cao.blogs.sapo.pt/

A lista de liberalizações é infinita!!!

segunda-feira, novembro 20, 2006

Selecciona-se engenheiro financeiro (m/f)

Parte de um anúncio publicado no “Público” de ontem que devia fazer corar de vergonha os Governantes, na secção de Cartas ao Director:

«Agradece-se que não respondam "tesoureiros", mesmo que tenham no currículo estadias em importantes cargos políticos na área da economia e finanças, porque não temos possibilidade de resolver os nossos défices cortando nos custos através de despedimentos ou pré-reformas de elementos da família ou aumentando as nossas receitas impondo contribuições e retribuições a cada um dos nossos vizinhos e, depois, aumentá-las anualmente. Por isso, para as mesmas despesas, económica e socialmente inevitáveis, pretendemos obter uma subida da nossa produção para os níveis que as justifiquem, já que não queremos contrair mas sim expandir!

Também não se devem candidatar os "gestores tipo D. Branca", que têm exercitado a sapiência em sociedades que, vendendo produtos e serviços essenciais à vida das pessoas, estão ou estiveram no mercado em regime de monopólio ou de oligopólio e, como tal, habituados a proveitos crescentes e garantidos. Finalmente, daremos preferência às candidaturas de mentirosos compulsivos capazes de demonstrarem que há vigarices de boa-fé!

Remuneração compatível com o desempenho e possibilidade de prémios por fora.»

ANTONIO LARES DOS SANTOS
LISBOA

Enquanto houver portugueses capazes de se exprimirem assim e serem entendidos por outros portugueses, não corremos o risco de ser anexados pela Espanha.


sábado, novembro 18, 2006

Um texto sobre o Alentejo

Alentejo – a única região de Portugal onde o povo canta de braço dado. Onde as pessoas não têm medo do contacto físico das outras. Será o único local do Mundo onde o homem parece confiar no homem?


Gosto da prosa de Miguel Sousa Tavares e o texto dele que hoje o Expresso publica, é lindo!

Só um bocadinho, para saborearem:

«…num céu deslumbradamente limpo de todas as coisas inúteis. É difícil, agora, acreditar que existe vida além desta, que existe outra fé ou outra obediência que não a da razão que rege a natureza.»

Tão diferente de quando diz mal dos professores! [Deve ter um problema freudiano mal resolvido com alguma professora ou professor.]

Também sou admirador fanático do Alentejo.

Não sou necrófilo mas tenho uma amante alentejana morta. Amo quase carnalmente Florbela Espanca.

«Horas mortas, curvada aos pés do monte, a planície é um brasido…»

Depois, se há local onde eu gostava de ter nascido era no Alentejo. Que comunhão com a natureza! Bom, qualquer dia, com a sua betonização não há mais Alentejo, há golfe, há SPAs, há”haciendas” de estrangeiros, muitos hotéis e apartamentos. O Alqueva há muito que é uma sentença de morte para os alentejanos, como os conhecemos.

Os próprios olivais (quilómetros e quilómetros deles) são daqueles anõezinhos, como lhes chama o Saramago, muito produtivos, de fácil apanha, mas propriedade de agricultores espanhóis.

sexta-feira, novembro 17, 2006

Numa caixa de sapatos

Ontem acabei de ler “As pequenas Memórias” de Saramago. Hoje, não por isso certamente, acordei num grande desencantamento. Eu, que ando sempre de bem com a vida, hoje acordei desagradado de mim e do mundo. Misantropo.

O livro foi um instantinho enquanto ficou lido. Mas não me soube particularmente bem. Esperava mais e melhor. É-me relativamente difícil ler memórias (é capaz de ser também bastante difícil escrevê-las), mas é, esperava mais… Depois d’ “As Intermitências da Morte”, de “Todos os Nomes” e do “Memorial do Convento”, que li todos de enfiada, parecia-me que estas memórias deveriam ser um livro mais elaborado. Não, parece que foi redigido à pressa como se o fito principal fosse aparecer ao público numa determinada data. Assemelha-se a uma manta de retalhos em que as costuras que os ligam tivessem sido atabalhoadamente cosidas. Mas os retalhos são muito bonitos.

O mais lindo, para o meu gosto, é o dos bacorinhos mais fracos, acolhidos nas noites frias, pelos avós, na sua própria cama. Este episódio lembra-me um cá de casa:

Eu e a minha mulher, além dos filhos, já criámos duas cadelinhas recém-nascidas abandonadas, que nos obrigavam a levantar de três em três horas para lhes darmos o biberão e dormiam as duas dentro de uma peúga. Mais tarde dormiram também connosco na cama. Uma de cada lado de nós os dois…

Foi o meu filho mais novo, então adolescente, que no-las trouxe, numa noite fria e chuvosa de Novembro, para casa. Tinha-as encontrado numa caixa de sapatos numa travessa da cidade, e à chuva… Bons tempos!

quinta-feira, novembro 16, 2006

Terceiro parágrafo: paroxismo da produtividade absurda.

«Um tipo tem de estar num país estranho como a França, a percorrer o meridiano que separa os hemisférios da vida e da morte, para saber as vistas incalculáveis que se escancaram à frente. O corpo eléctrico! A a/ma democrática! Maré enchente! Santa Mãe de Deus, que significam estas tretas? A terra está ressequida e estalada. Homens e mulheres unem-se como bandos de abutres sobre uma carcaça fedorenta, para acasalarem e se separarem de novo. Abutres que caem das nuvens como pedras pesadas. Garras e bico, eis o que somos! Um imenso aparelho intestinal com um faro especial para carne morta. Avante! Avante sem piedade, sem compaixão, sem amor, sem perdão. Não pedir nem dar quartel. Mais barcos de guerra, mais gás venenoso, mais explosivos fortes! Mais gonococos! Mais estreptococos! Mais máquinas de bombardear! Mais e mais de tudo isso até todo este caraças ir pelos ares feito em fanicos e a Terra com ele!»


TRÓPICO DE CÂNCER
Henry Miller


Antes, Miller, tinha pedido «mais porcas e parafusos, mais arame farpado, mais biscoitos para cães, mais aparadoras de relva, mais rolamentos de esferas, mais tanques, mais sabonetes, mais pasta para os dentes, mais jornais, mais educação, mais igrejas, mais bibliotecas, mais museus…», tudo como se se tratasse da mesma coisa, obsessiva e inútil.

Estávamos em 1934 ou 1935, cheirar-lhe-ia já a Guerra, primeiro em Espanha, depois no mundo inteiro?

O curioso é que estas premissas se mantêm e agravaram… extinguir-se-á o Homo sapiens? Virá aí o Homo technicus [o Homem biónico] que se alimentará do sapiens?


quarta-feira, novembro 15, 2006

Segundo parágrafo: essência da feminilidade.



«É só isso que quero delas: esquecer-me de mim próprio. Em certas ocasiões perco-me de tal maneira nos meus sonhos que nem me consigo lembrar do nome da gaja nem de onde a arranjei. É engraçado, não é? É bom ter um corpo novo e quente ao nosso lado quando acordamos, de manhã. Dá-nos uma sensação de limpeza. A modos que nos espiritualiza... até elas começarem com a velha história do amor et cetera. És capaz de me dizer porque será que todas estas conas falam tanto de amor? Aparentemente, uma boa foda não lhes chega... também querem a nossa alma...»

TRÓPICO DE CÂNCER
Henry Miller


É claro que a masculinidade não compreende a feminilidade… Também, as mulheres não são para compreender, compreendê-las é diminui-las, tirar-lhes todo o imenso valor humano que possuem, que lhes é intrínseco!

As mulheres não mentem, efabulam. Que de prémios Nobel da literatura não se perdem só porque a maioria das mulheres não escreve. Se vos contasse todas as histórias que já ouvi, acompanhadas de sentidas e verdadeiras lágrimas, vocês não acreditariam, tal como eu que também não acreditei. Mas é assim que elas são maravilhosas!

Mas temos de as calar: com as mãos, com a boca com o que calhar. Se as deixamos falar muito tempo, perdemos a oportunidade e mulher nenhuma dá uma segunda oportunidade!

terça-feira, novembro 14, 2006

Primeiro parágrafo: sabor a beco sem saída.

«Deixara de constituir mistério para mim o motivo por que ele e outros (Dante, Rabelais, Van Gogh, etc., etc.) tinham feito a sua peregrinação a Paris. Compreendia por que razão Paris atrai os torturados, os alucinados e os grandes maníacos do amor. Compreendia por que razão aqui, no próprio eixo da roda, é possível adoptar as teorias mais fantásticas e impossíveis sem as achar nada estranhas; é aqui que voltamos a ler os livros da nossa juventude e que os enigmas assumem novos significados: um por cada cabelo branco. Percorremos as ruas sabendo que somos loucos, que estamos possessos, porque salta aos olhos que estes rostos frios e indiferentes com que nos cruzamos são os rostos dos nossos guardas. Aqui todas as fronteiras se esbatem e o mundo revela-se o matadouro louco que é. A rotina alastra até ao infinito, os postigos fecham-se bem fechados, a lógica anda descontroladamente à solta e cutelos ensanguentados brilham no ar. O ar está gelado e estagnado, a linguagem é apocalíptica. Não há nenhum letreiro a indicar por onde se sai; a única saída é a morte. Um beco sem saída ao fundo do qual se ergue um cadafalso.»

TRÓPICO DE CÂNCER
Henry Miller


Gosto da linguagem do Miller


Este fim-de-semana, passei-o em Aveiro e acabei de ler o “Trópico de Câncer” de Henry Miller. Foi uma releitura para descansar do Saramago de quem, aliás, já comprei o último, que vai a seguir.
Gosto da linguagem do Miller, directa, ríspida, própria, sórdida, de escritor maldito. A nossa sociedade costuma horrorizar o que não consegue compreender!
Mas a verdade está lá, todinha, como murros dolorosos no estômago… não é música romântica para donzelas melindrosas.

Vamos saborear três parágrafos, apenas três…

segunda-feira, novembro 13, 2006

Pomada Sócrates


«Cartoon do “Público” de ontem»








Problemas no Défice de Orçamento do País? Aplique “pomada Sócrates”. Passado algum tempo, aparece sem défice e sem País!

quinta-feira, novembro 09, 2006

Uma invenção do Diabo!

Recebi mais um daqueles mails que não podem deixar-me indiferente.

«Eu não sou inocente quando te envio certas coisas, pois sei que na tua pena ficam bem e evoluem.

Visitei o blog, mas não fiz comentários, todavia gosto de seguir o teu raciocínio. Vai mais este. Bom fim-de-semana

Subject: Advérbio disjunto restritivo da verdade da asserção (?????????????)

Depois de ver este artigo citado em tudo o que é blogosfera,
finalmente achei-o em:
http://aveazul.blogspot.com/

Podes ver, também, por exemplo, sobre este assunto (e seguir os
links):

http://origemdasespecies.blogspot.com/

[A TLEBS pode exterminar-se.
Tenho estado a tentar exercitar-me na TLEBS, ou terminologia linguística para os ensinos básico e secundário (disponível aqui). O trabalho não tem sido fácil, porque a TLEBS é absurda. Vasco Graça Moura tem sido uma das vozes, senão a principal, a insurgir-se contra esse desmando a perpretar contra o ensino do Português. Recentemente, Maria Alzira Seixo na Visão (o que permitiu um pequeno post scriptum a E. P. Coelho no Público) escreveu um artigo notável. Poucos se têm interessado sobre o assunto, e a TLEBS passará por ser esquecida; hão-de deixá-la passar na resma de reformas que os superiores génios instalados no Ministério da Educação periodicamente apresentam. Ora, a TLEBS, proposta por uma equipa de linguistas (seguir os links apresentados aqui), não é um avanço; constitui uma distracção letal, se a ministra, ocupada em tarefas políticas, não lhe puser um travão, como deve. Esta ideia de que o Português é propriedade de um grupo de génios que detestam o Português, pode exterminar-se. Parar a TLEBS é uma etapa.

Ver também Eduardo Pitta e João Gonçalves. ]

Adeus. Tua amiga de sempre
L.T.»

terça-feira, novembro 07, 2006

Basta de tanto sofrimento!

O Convento está feito. O padre Bartolomeu voou e endoidou-se lá para onde fugiu. Sete-Sóis assou na fogueira com mais uns quantos supliciados [misericórdia da Igreja Católica de Roma] e Blimunda finalmente recebeu em si a alma do seu amado.

Chega de promessas reais, de nascimentos e passamentos. Agora quero leitura mais leve. A ver vamos o que será.

sexta-feira, novembro 03, 2006

Mais um ideal socrático…

Será este o ideal de classe docente sonhada pelo governo de Sócrates?

Um rebanho dócil e bem pastoreado?

«Este numeroso povo (porque na verdade poderia povoar uma cidade como algumas das nossas) não é hoje uma turba de pessoas apenhadas à nossa volta mas um exército de vontades alinhadas, organizadas, obedientes a uma hierarquia que o comanda, pronto para executar movimentos de origem competente, e que por vias competentes lhe são determinados. Agentes aptos a cumprir ordens legítimas, surdos e indiferentes a sugestões ilegítimas - assim os define perante V. Exvª. , tanto quanto me permite a certeza em cousas que são humanas. "

Alocução do Director Geral do Ensino Primário (Braga, 1 de Fevereiro de 1934). In NÓVOA, A. (1992) A "Educação Nacional" in AA VV (1992) Nova História de Portugal. Portugal e o Estado Novo (1930-1960). Lisboa: Presença

http://web.educom.pt/margaridabelchior/Ed_Est_Novo/curriculos.htm

A D. Maria de Lurdes é o máximo!

Delicioso este excerto de um texto publicado no blogue “A Educação do meu Umbigo”

http://educar.wordpress.com/

«Depois há aquela noção, para mim, sempre triste de confundir quantidade com qualidade. O professor que dá mais aulas é o mais competente. Isto disse-o explicitamente a Ministra: quem não falta deve ser distinguido e considerado Muito Bom ou Excelente, pelos vistos mesmo que as suas aulas sejam uma desgraça pegada. Então se der classificações a esmo aos alunos e for de falinhas mansas com os pais, a excelência é um dado adquirido. Eu até quero acreditar que isso não seja exactamente o efeito desejado, mas o discurso explícito produzido hoje por MLR é nesse sentido. O mais pode e deve ser considerado excelente; o melhor não existe, desde que seja dado mais 1% de faltas num ano.»

Eu também ouvi a Dona Maria de Lurdes Rodrigues dizer isto e outros disparates na televisão e nem queria acreditar que ouvia o que estava a ouvir. Realmente é mais fácil chegar a ministro que a simples professor!

quinta-feira, novembro 02, 2006

Os "privilégios" dos professores portugueses, segundo a OCDE

Colega sempre atenta acaba de me enviar um mail, muito importante, que junta mais alguns elementos para a compreensão da Guerra Suja da Ministra da Educação aos Professores

Desiludam-se os jornalistas!
Quando afirmam que a guerra é entre a ministra e os sindicatos estão muito enganados – a guerra envolve mesmo os professores.

Resposta a um leitor do "Expresso" s/ os privilégios dos profs.

(Consultem a página indicada vale a pena)

Convido o Zorba1952 a, antes de vir para aqui com disparates e
mentiras, consultar a última versão (2006) do Education at a
Glance, publicado pela OCDE. Vou facilitar-lhe o trabalho de
persquisa: encontra esse documento em

http://www.oecd.org/dataoecd/44/35/37376068.pdf

Se for à página 58, verá desmontada a convicção generalizada e
disparatada de que os professores portugueses passam pouco tempo na
escola e que no estrangeiro não é assim. Está lá escarrapachado que,
em tempo de permanência na escola, os profs portugueses estão em 14º lugar (em 28 países), com tempos de permanência superiores aos
japoneses, húngaros, coreanos, espanhóis, gregos, italianos,
finlandeses (sim, os tais que o ex-PR disse, na TV, que passavam 52
horas por semana na escola, eh, eh, eh), austríacos, franceses,
dinamarqueses, luxemburgueses, checos, islandeses e noruegueses! E
agora? Quem tem mais credibilidade? O estudo da OCDE, ou o "estudo"
a olhómetro de muitos (à boa maneira portuguesa...)?

Já agora, no mesmo documento de 2006 poderá verificar, na página 56,
que os professores portugueses estão em 21º lugar (em 31 países)
quanto a salários! Admirado, não? Pois é, há dias, os jornais da
situação vomitaram cá para fora que os profs portugueses eram os
terceiros mais bem pagos, não foi? Mas há mais (e olhe que vi os
gráficos na diagonal...)! Mais, na pág. 32 poderá verificar que,
quanto a investimento na educação em relação ao PIB (e olhe que
temos um PIB de trampa!), estamos num modesto 19º lugar (em 31
países - aposto que está boquiaberto, o seu olhómetro dava-lhe
outros números, não?)) e que estamos em 23º lugar (em 31 países)
quanto ao investimento por aluno, como se pode verificar na pág. 32.
Isto o ME não manda publicar, não!!!

Convido o Expresso a confirmar
os dados que acabei de dar, retirados daquele que é considerado o
estudo mais credível, o da OCDE. E, já agora, que divulgasse os
números.

Lamber as feridas

Manhã cedo, saio à rua. A cidade ainda lambe as feridas, vai-se apinocando. Valha-nos isso, parece que a autarquia não adormeceu! Mas corrigir erros quase com cem anos, exercer uma acção pedagógica eficaz sobre a ganância construtora dos pombalenses, veremos isso alguma vez?

Seremos capazes de deixar as linhas de água e ribeiras desimpedidas? Vamos tentar desenterrar as que for possível? Vamos deixar de construir em leito de cheia? Ou então assumimos o risco e não nos queixamos, nem de Deus nem da Natureza, quando ela aparecer a cobrar os seus direitos!